segunda-feira, 30 de abril de 2007

Bocas
















permitam-me a opinião totalmente parcial: o meu cão é um espectáculo! =)

queria só partilhar que reparei hoje que, passado 1 ano de ter tido duas tromboses, o meu bichanito voltou a levantar as duas orelhas outras vez!! =D "grande coisa..." dizem vocês... :P Pois eu fiquei muito orgulhosa! ah valente! hehehe =D

segunda-feira, 23 de abril de 2007

“(...) Mal informados sobre a natureza profunda da morte, cujo outro nome é fatalidade, os jornais têm-se excedido em furiosos ataques contra ela, acusando-a de impiedosa, cruel, tirana, malvada, sanguinária, vampira, imperatriz do mal, drácula de saias, inimiga do género humano, desleal, assassina, traidora, serial killer outra vez, e houve até um semanário, dos humorísticos, que, espremendo o mais que pôde o espírito sarcástico dos seus criativos, conseguiu chamar-lhe filha-da-puta. Felizmente, o bom senso ainda perdura em algumas redacções. Um dos jornais mais respeitáveis do reino, decano da imprensa nacional, publicou um sisudo editorial em que apelava a um diálogo aberto e sincero com a morte, sem reservas mentais, de coração nas mãos e espírito fraterno, no caso, como era óbvio, de se conseguir descobrir onde ela se alojava, o seu fojo, o seu covil, o seu quartel-general. Um outro jornal sugeriu às autoridades policiais que investigassem nas papelarias e fábricas de papel, porquanto os consumidores humanos de sobrescritos de cor violeta, se os houvera, e pouquíssimos seriam, deveriam de ter mudado de gosto epistolar à vista dos acontecimentos recentes, sendo portanto facílimo caçar a macabra cliente quando ela se apresentasse a renovar a provisão. Outro jornal, rival acérrimo deste último, apressou-se a classificar a ideia de estupidez crassa, porquanto só a um idiota chapado poderia ocorrer a lembrança de que a morte, um esqueleto embrulhado num lençol como toda a gente sabe, saísse por seu pé, chocalhando os calcâneos nas pedras da calçada, para ir lançar as cartas ao correio. (...)”

“(...) Coitada da morte. Dá-nos vontade de lhe ir pôr uma mão no seu duro ombro, dizer-lhe ao ouvido, ou melhor, ao sítio onde o tinha, por baixo do parietal, algumas palavras de simpatia, Não se rale, senhora morte, são cousas que estão sempre a suceder, nós aqui, os seres humanos, por exemplo, temos grande experiência em desânimos, malogros e frustrações, e olhe que nem por isso baixámos os braços, lembre-se dos tempos antigos quando a senhora nos arrebatava sem dó nem piedade na flor da juventude, pense neste tempo de agora em que, com idêntica dureza de coração, continua a fazer o mesmo à gente mais carecida de tudo quanto é necessário à vida, provavelmente temos andado a ver quem se cansava primeiro, se a senhora ou nós, compreendo o seu desgosto, a primeira derrota é a que mais custa, depois habituamo-nos, em todo o caso não leve a mal que lhe diga oxalá não seja a última, e não é por espírito de vingança, que bem pobre vingança seria ela, seria assim como deitar a língua de fora ao carrasco que nos vai cortar a cabeça, a falar verdade, nós, os humanos, não podemos fazer muito mais que deitar a língua de fora ao carrasco que nos vai cortar a cabeça, deve ser por isso que sinto uma enorme curiosidade em saber como irá sair da embrulhada em que a meteram, com essa história da carta que vai e vem e desse violoncelista que não poderá morrer aos quarenta e nove anos porque já cumpriu os cinquenta. A morte fez um gesto impaciente, sacudiu secamente do ombro a mão fraternal que ali tínhamos pousado e levantou-se da cadeira. Agora parecia mais alta, com mais corpo, uma senhora morte como se quer, capaz de fazer tremer o chão debaixo dos pés, com a mortalha a arrastar levantando fumo a cada passo. A morte está zangada. É a altura de lhe deitarmos a língua de fora.”

in As Intermitências da Morte, de José Saramago



Apenas dois trechos do livro que acabei de ler e que classifico, em jeito Markliano, de Genial!

segunda-feira, 9 de abril de 2007













saudades de mim